A ilusão da energia: por que a sua lata favorita pode estar sabotando seu bem-estar?
- Thaís Monteiro Salán

- 16 de ago.
- 4 min de leitura
Se você já se pegou virando uma bebida energética para aguentar um dia de estudos intenso, uma noite de trabalho ou para dar aquele gás na academia, saiba que você não está sozinho. O consumo dessas bebidas cresceu de forma assustadora, especialmente entre jovens e adultos que buscam um atalho para mais foco e energia. Mas, por trás da promessa de super-heróis da produtividade, o que a ciência realmente tem a dizer?
Recentemente, mergulhamos em um universo de estudos científicos e artigos de pesquisa para entender os verdadeiros impactos das bebidas energéticas. O que descobrimos nos faz repensar seriamente o hábito de consumi-las.
O que tem dentro dessa lata?
A maioria das bebidas energéticas contém cafeína, açúcar, taurina, vitaminas do complexo B e outros estimulantes. A cafeína é o principal componente que proporciona a maioria dos benefícios de curto prazo, como a melhora do estado de alerta e do desempenho físico e mental. Por exemplo, estudos mostram que o consumo moderado pode aumentar a vigilância, a atenção e até mesmo a memória de curto prazo. Para quem está com privação de sono, a bebida pode ser uma ferramenta temporária para manter o desempenho mental e evitar lapsos de concentração.
Na área esportiva, os energéticos também parecem ter seu valor. Eles podem aumentar a resistência aeróbica, permitindo que atletas corram ou pedalem por mais tempo. A cafeína estimula a liberação de adrenalina e ácidos graxos, o que ajuda a poupar glicogênio e reduzir a sensação de esforço, fazendo com que o exercício pareça "mais fácil". Isso é útil em treinos longos e competições de resistência.
No entanto, esses benefícios vêm com um aviso importante: a moderação é fundamental.
O lado sombrio da energia instantânea
O que os estudos mais recentes vêm mostrando é um cenário preocupante para a saúde mental e a qualidade de vida. O consumo excessivo, ou até mesmo moderado, dessas bebidas pode ter efeitos colaterais substanciais.
Ansiedade e humor: Uma metanálise de 2024, publicada na Frontiers in Psychology, descobriu que doses de cafeína superiores a 400 mg por dia, o que é facilmente atingido com algumas latas de energético, podem aumentar drasticamente os níveis de ansiedade. Mas a notícia ruim não para por aí: o risco de ansiedade continua presente mesmo em doses mais baixas. Outros estudos associam o consumo frequente a um aumento consistente nos níveis de estresse e sintomas depressivos.
O sono que você perde: Aquele gás para a noite de estudos ou de trabalho tem um custo alto. A ciência comprova que a cafeína das bebidas energéticas reduz o tempo total de sono em cerca de 45 minutos e a eficiência do sono em 7%. Isso acontece mesmo se a bebida for consumida até seis horas antes de ir para a cama. Um estudo com mais de 53 mil universitários noruegueses revelou que tomar apenas uma lata por mês já dobra as chances de dormir menos de seis horas por noite e ter despertares noturnos frequentes.
Risco alarmante de ideação suicida: Este é, talvez, o achado mais chocante. Uma metanálise recente publicada na revista
Nutrients mostrou que o consumo de apenas uma bebida energética por mês já está associado a um risco elevado de ideação e tentativa de suicídio. Em contraste, o café, em doses moderadas, pode até ter um efeito protetor. Essa diferença ressalta que o problema não está só na cafeína, mas também na combinação de ingredientes presentes nos energéticos.
O ciclo da dependência: O uso habitual de energéticos pode levar a uma forma de dependência leve. Consumidores relatam sintomas de abstinência como dor de cabeça, fadiga e irritabilidade ao tentar reduzir ou parar de beber. Essa dependência cria um ciclo vicioso: você toma a bebida para combater a fadiga, ela prejudica seu sono, e você se sente ainda mais cansado no dia seguinte, o que te leva a consumir outra lata. E o ciclo se repete.
Consumo consciente: a chave para o equilíbrio
A mensagem dos cientistas é clara: embora os energéticos possam oferecer um impulso temporário de energia e desempenho, os riscos para a saúde mental e o sono são substanciais, mesmo em doses moderadas . Não há "consumo seguro" quando se fala em saúde mental.
Embora ofereçam estímulo momentâneo e sensação de energia, as evidências científicas indicam que os riscos associados ao uso de bebidas energéticas mesmo em doses moderadas são substanciais.
As evidências provenientes de metanálises, ensaios clínicos, coortes transversais e revisões sistemáticas convergem para a conclusão de que o consumo de bebidas energéticas está associado a impactos significativos na saúde mental, qualidade do sono e estilo de vida, mesmo quando consumidas com moderação.
Já para consumo moderado, o risco também foi estatisticamente elevado, mostrando que não há consumo seguro quando se fala em saúde mental.
A recomendação é simples: mantenha a sua ingestão total de cafeína abaixo de 400 mg por dia, evite consumir energéticos à tarde ou à noite, e dê preferência a fontes de energia mais naturais, como chás ou café com baixo teor de cafeína. E o mais importante: se você está usando essas bebidas para lidar com o estresse, a ansiedade ou a fadiga, isso pode ser um sinal de que é hora de procurar ajuda profissional.
O verdadeiro bem-estar não vem de uma lata, mas de um estilo de vida equilibrado, que inclui sono de qualidade, boa nutrição e manejo saudável do estresse. A gente merece essa energia de verdade, e não uma ilusão que nos custa a paz de espírito.




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