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🎵 Música, Saúde Mental e Imunidade: O Que a Ciência Revela Sobre Esse Poder Terapêutico

Quando terminei de ler o artigo “Music, mental health, and immunity”, publicado na Brain, Behavior, & Immunity – Health, confesso que fiquei com a sensação de ter recebido um presente científico para o coração e para a prática clínica. A pesquisa conduzida por Lavinia Rebecchini, do King’s College London, é mais do que um levantamento de evidências: é um convite para olharmos a música não apenas como arte ou entretenimento, mas como uma poderosa aliada da saúde mental e até mesmo do nosso sistema imunológico.



música e saúde mental
Música e Saúde Mental

O texto me prendeu desde o início, quando descreve algo tão simples e universal: a presença da música em todas as culturas, idades e lugares. Mas, à medida que avançamos, percebemos que não estamos falando de algo abstrato. Estudos sérios, com dados concretos, mostram que a música pode melhorar frequência cardíaca, habilidades motoras, estimular o cérebro e até fortalecer as defesas do organismo. E não é apenas dentro do consultório de um musicoterapeuta que essa mágica acontece — cantar, tocar, ou até simplesmente ouvir música pode gerar mudanças profundas.


Rebecchini descreve o impacto da música desde o início da vida. Fiquei especialmente tocada com as pesquisas sobre mães cantando para seus bebês, fortalecendo vínculos, reduzindo o choro e melhorando a interação. É como se a melodia fosse uma ponte invisível entre corações, capaz de traduzir afeto mesmo antes das palavras. E, no outro extremo da vida, a música também atua: reduz ansiedade e agitação em idosos com demência, devolvendo-lhes momentos de calma e conexão.


O artigo não ignora os efeitos negativos possíveis — como o impacto de músicas com letras agressivas —, mas o foco está no potencial transformador. E ele é grande. Pacientes com ansiedade, depressão ou esquizofrenia demonstram melhora significativa após intervenções musicais, tanto no humor quanto na socialização. Em mães com depressão pós-parto, aulas de canto aceleraram a recuperação. Em gestantes, ouvir música diariamente reduziu estresse, ansiedade e sintomas depressivos. Tudo isso sem efeitos colaterais, acessível, adaptável a cada cultura e gosto pessoal.


A parte mais fascinante, no entanto, foi a ligação entre música e sistema imunológico. Não é apenas “sensação de bem-estar”: há marcadores biológicos que comprovam a influência. A música pode reduzir cortisol — o hormônio do estresse —, aumentar a imunoglobulina A salivar (primeira barreira contra vírus e bactérias), modular neurotransmissores como dopamina e endorfina e até diminuir substâncias inflamatórias. Mais impressionante ainda: participar ativamente (cantar ou tocar) potencializa esses efeitos em comparação a apenas ouvir.


É impossível não pensar nas implicações práticas disso. Em um mundo em que estresse crônico, ansiedade e doenças inflamatórias crescem de forma alarmante, temos em mãos uma intervenção simples, prazerosa e cientificamente embasada. Imagine hospitais, escolas e comunidades usando a música não apenas como recreação, mas como parte do cuidado integral à saúde.


Ler este artigo reforçou para mim algo que sempre intuí como médica: a cura não está apenas em comprimidos e protocolos, mas também em experiências humanas profundas. A música é uma dessas experiências. Ela organiza o caos interno, cria vínculos, modula emoções e, como a ciência agora confirma, fortalece o corpo. É hora de olharmos para ela não como luxo ou passatempo, mas como ferramenta terapêutica de valor incalculável.


E talvez essa seja a mensagem mais bonita do trabalho de Lavinia Rebecchini: a música é universal, democrática e está ao alcance de todos. Ela nos lembra que, mesmo diante das doenças e dificuldades, sempre teremos o poder de transformar sons em saúde, e que, no compasso certo, ciência e arte podem dançar juntas para nos devolver equilíbrio e bem-estar.

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