O movimento e a mente
- Thais Monteiro Salan

- 6 de jun. de 2017
- 2 min de leitura
Difícil explicar o que eu penso enquanto corro, mas aqui vai uma tentativa, parafraseando o escritor e corredor japonês Haruki Murakami: "Apenas Corro. Corro num vácuo. Ou talvez eu deva me colocar de outra forma: corro a fim de conquistar um vácuo, mas, como de se esperar, um pensamento ocasional vai invadir esse vácuo. A cabeça de uma pessoa não consegue manter um vazio completo. As emoções não são fortes ou consistentes o bastante para sustentar o vácuo. O que quero dizer é que o tipo de pensamento e idéias que invadem minhas emoções enquanto eu corro permanecem subordinadas a esse vácuo.
Na falta de conteúdo eles não passam de pensamentos aleatórios que giram em torno desse vácuo.” Lendo o relato de Haruki Murakami, não pude deixar de lembrar das técnicas de Atenção Plena, conceito também conhecido como Mindfulness. Embora muitos pensem ser uma “inovação”, esse é um conceito que data de milhares anos, de “…aproveitar a existência de forma plena, agindo como se ela realmente importasse, vivendo o único momento que temos de fato: o presente. Essa é uma intuição transformadora…” como explica Jon Kabat-Zinn. Outra fonte inspiradora nesse ramo, e nada “novo” é Moshe Feldenkrais.
Esse físico Russo discursa brilhantemente em seu livro “Consciência pelo Movimento”, publicado em 1977, sobre a integração entre mente e movimento. Segundo Feldenkrais, o movimento físico tem seu componente mental, e vice-versa. Pensando assim, as manipulações corporais (movimento) têm o poder de provocar alterações de posições mentais. Passando à minha atuação enquanto médica psiquiatra, é essencial compreender que corpo e mente estão integrados, de forma que podemos tratar o físico através da mente e a mente através do movimento. É nesse sentido que me junto àqueles que defendem a prática de esportes.
Não como resposta às exigências estéticas atuais, mas como instrumento de autoconhecimento, evolução e superação. O exercício físico nos ensina a amar o corpo na forma de tratá-lo, com atenção, maciez e dedicação. Os frutos desse cuidado vão além dos resultados estéticos, “…nos faz amar o que está dentro dele: nós mesmos.”(Moshe Feldenkrais).



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